fev 17, 2016
Melhorando a Qualidade Final da Ensilagem
fev 17, 2016
Todo o período de clima seco desafia nossos produtores a montarem uma estratégia na propriedade de forma a garantir disponibilidade de alimento em quantidade e qualidade suficientes para a manutenção de sua produção, seja ela de leite ou de carne. Uma das alternativas mais utilizadas é através de ensilagens. Culturas como de milho, sorgo e capim e mais recentemente, a cana-de-açúcar, têm sido as mais utilizadas para a ensilagem, variando conforme o conhecimento local ou pela tradição da cultura em determinadas propriedades.
Quem já está habituado a fazer silagens domina muitos dos aspectos que refletirão em um bom produto final, mas mesmo os mais experientes devem estar atentos a detalhes durante o processo de ensilagem que podem passar desapercebidos e comprometer a qualidade técnica e sanitária do ensilado.
Ainda que o manejo correto durante todo o processo de ensilagem seja fundamental (momento de corte da planta, tamanho da partícula, tempo de carregamento do silo e boa compactação e vedação do material), outros detalhes do processo de ensilagem cada vez chamam mais a atenção de produtores e pesquisadores.
Basicamente, a ensilagem visa preservar as condições nutricionais da cultura, através da fermentação ácida em meio anaeróbico (sem a presença de ar). Nesse sentido é imprescindível conseguir um ambiente sem ar e com baixo pH (abaixo de 4,0) o mais rápido possível, para que as bactérias e fungos presentes normalmente na cultura e no ambiente sejam controlados e o material ensilado se mantenha conservado, pois os microrganismos patogênicos e deteriorantes não se desenvolvem na ausência de oxigênio e baixo pH.
Toda planta contém uma quantidade própria de carboidratos que serão fermentados de forma natural pelas bactérias nela presentes, produzindo ácidos que fazem com que o pH da silagem diminua gradativamente. Com o uso de um inoculante bacteriano específico e adequado, essa acidificação do meio ocorre muito mais rapidamente, além de haver consumo do oxigênio residual (o ar que restou dentro do silo) e ainda proteger o material ensilado contra o ataque de leveduras e fungos. Além disso, na medida em que conseguimos uma redução rápida do pH, mais nutrientes da planta serão conservados, resultando em menores perdas de matéria seca, maior digestibilidade e melhor palatabilidade, o que resulta em maior consumo e produtividade.
Uma vez alcançada a fermentação desejável no silo, o material estará conservado até o momento da abertura para o consumo. Assim que o silo é aberto e o material entra novamente em contato com o ar, o crescimento de bactérias e fungos deteriorantes se reinicia. O aquecimento que observamos na frente do silo deve-se ao reinício das fermentações indesejadas, promovidas por estes microrganismos, que deterioram a silagem e promovem perdas do material em torno de 20% ou mais. Então, mais uma vez a composição do inoculante será fundamental para a garantia da qualidade da silagem, pois outra atribuição desejável em um bom inoculante é a de proteger a silagem após a abertura, garantindo sua estabilidade.
Além das perdas diretas do material, as conseqüências pela ingestão de uma silagem inapropriada refletem-se diretamente no desempenho dos animais. Relatos de casos de problemas reprodutivos correlacionados à presença de micotoxinas (toxinas produzidas pelos fungos) nas silagens tornam-se cada dia mais freqüentes. Pesquisas modernas mostram cada vez mais que a qualidade da silagem tem influência direta na qualidade do leite, no bom aproveitamento para industrialização (queijos, iogurtes, etc.) e na sanidade animal, diminuindo inclusive a incidência de mastite e contagem de CCS.
Quando vacas são alimentadas com silagem contaminada pela bactéria do gênero Clostrídeo, o leite pode ocasionar sérios problemas para fabricação de queijos. Os esporos de clostrídeos são resistentes à temperatura de cozimento de alguns queijos e encontram condições ideais de desenvolvimento e fermentação. Com as condições favoráveis durante a maturação dos queijos, esses microorganismos proliferam, ocorrendo o inchamento dos queijos devido à produção de gases poucas semanas após a fabricação. A fermentação por clostrídeos transforma o ácido lático em ácido butírico e H2, o que confere odor e gosto desagradáveis ao queijo, que perde valor comercial.
O gado de corte também está susceptível à qualidade da silagem que compõe sua ração. No caso de confinamentos os problemas podem ser graves, com diminuição no consumo, menor ganho de peso, abscesso de fígado, resultando em prejuízos financeiros.
O maior atributo de um inoculante bacteriano é o de atender de fato ao que é a necessidade de conservação de uma determinada cultura, levando em consideração as diferenças em sua composição nutricional, teor de matéria seca e fibras. Os inoculantes produzidos com cepas bacterianas patenteadas e específicas para as características de cada forrageira são os que atendem aos requisitos tecnológicos indispensáveis para a produção de uma silagem da mais alta qualidade sanitária e nutricional, garantindo ao produtor a certeza de estar fornecendo aos animais um alimento seguro e que promoverá o retorno financeiro desejado.
Edson Carlos Poppi é Zootecnista, Diretor Técnico da Lallemand Animal Nutrition no Brasil.