Blog | Reading Time 5 minutos

Situações práticas de outono em lavouras de milho a serem ensiladas

Situações práticas de outono em lavouras de milho a serem ensiladas

Introdução

Nos últimos anos nos estados do Sul, algumas regiões sofreram com os campos semeados para uma colheita do milho “safrinha” ou de outras culturas.

Características dessa forragem

O primeiro procedimento que deve ser feito é a amostragem de algumas plantas para monitoramento do teor de MS.

  • Baixo conteúdo de amido: a falta de chuva dificulta o enchimento dos grãos e a translocação de nutrientes para a espiga (também evidenciado na Foto 1);
  • Altos níveis de açúcares: relacionado ao tópico acima, as plantas de milho que tenham passado por seca têm os carboidratos solúveis (açúcares) que não foram convertidos em amido, fazendo com que a concentração esteja na planta na forma de açúcares;
  • Produção de MV reduzida: baixo crescimento vegetal como é evidente em áreas que sofrem com período de escassez de água durante o desenvolvimento vegetal (Foto 2). A redução na altura, associada ao menor acúmulo de amido têm impacto negativo nos dois principais fatores de uma boa silagem de milho: produção de MS e densidade energética;
  • Maior digestibilidade do FDN: como faltou água, não houve estímulo de formação de tecido de sustentação vegetal. Sabe-se que a inturgescência das células vegetais (acúmulo de água) é uma das responsáveis pela formação e deposição de porções menos digestíveis das plantas, tal como a lignina. Sendo assim, a fibra torna-se mais digestível (maiores valores de FDN-D);
  • Alto conteúdo de nitrato: esta questão está relacionada ao metabolismo de nitrogênio na planta. Alto nitrato nas plantas é crítico, sobretudo, para algumas categorias de animais (gado de leite e animais de cria). O nitrato acumulado pode levar à intoxicação por nitrito nos animais. Mais abaixo isso será comentado em mais detalhes.

Abaixo temos os valores de amostras (n = 1.386) avaliadas em um laboratório nos EUA, comparando algumas que passaram por seca e outras que tiveram as situações climáticas normais.

 

Tabela 1 – Comparativo de amostras analisadas nos EUA considerando materiais que sofreram déficit hídrico (seca) e materiais normais.

Amostras MS (%) PB   (%MS) FDN (%MS) FDA (%MS) FDN-D (%) Cinzas (%MS) Amido (%MS)

Carboidratos solúveis (%MS)

Déficit hídrico 25,2 10,1 53,7 31,1 59 6,3 10,5 7
Planta normal 35,1 8,8 45 28,1 55 4,3 32 1

Nota: FDN-D – Digestibilidade do FDN.

Fonte: Dairyland Labs – 1.386 amostras de silagem de milho que foram ensiladas entre 01/Julho a 07/Agosto de 2012, nos EUA em regiões de déficit hídrico e planta normal.

 

Cuidados com plantas nas situações de seca e geada

Uma das características dessas plantas é parecerem mais secas do que realmente estão, portanto há risco de colheita mais precoce do que deveria e que leva a fermentação butírica. Se o teor de MS estiver baixo e mesmo assim já for preciso a colheita nesse momento, a inoculação com bactérias homofermentativas é recomendada.

 

Foto 1 – Característica dos grãos de milho de plantas que sofrem estresse hídrico no estado de Goiás. Cortesia: Jorge Jawabri.

 

Foto 2 – Lavoura de milho no estado de Goiás demonstrando a baixa produção de MS devido a seca que o material passou nos meses de março e abril de 2016. Cortesia: Jorge Jawabri.

 

As plantas que passaram por seca acumulam nitrato durante o metabolismo de nitrogênio, principalmente nas porções mais baixas da planta, como demonstrado na Figura 1, em resultados de pesquisa da Universidade de Wisconsin.

Figura 1 – Níveis de nitrato em plantas de milho que cresceram com a falta d’água. Fonte: Universidade de Wisconsin.

 

A boa notícia é que a ensilagem é capaz de diminuir consideravelmente o nível de nitrato durante o processo fermentativo, podendo alcançar até 60% de diminuição do teor de nitrato original na planta fresca, segundo alguns autores.

Silagem de forragens danificadas pela geada

Muito semelhante à seca, a geada compromete as plantas em momentos em que, geralmente, ainda não estão prontas para colheita, como demonstra a Foto 4. Nota-se que as folhas estão secas, mas as espigas ainda estão verdes, como citado acima para plantas que passaram pela seca, ainda pode haver água no colmo, o que poderia levar a uma fermentação inadequada.

Foto 4 – Lavoura que passou por geada em Maio de 2016 no estado de SC.

 

A maior parte das recomendações é que essas lavouras devem ser colhidas até alguns dias (entre 5 e 7 dias) após o fenômeno e garantir a boa fermentação. Se for necessário, deve-se utilizar inoculantes que podem ajudar a controlar fungos e leveduras (L. buchneri ou Propionibacterium acidipropionici).

Recomendações gerais

  • Monitore o teor de MS de lavouras atingidas por seca ou geada se o objetivo for ensilá-las;
  • Mantenha as áreas que sofreu seca pelo tempo mais longo possível no campo, pois os níveis de nitrato devem diminuir com o avanço da maturidade;
  • O corte mais alto tende a levar para o silo um material de menor teor de nitrato;
  • Espere entre 3 e 5 dias após a chuva para colher o material;
  • Use bactérias homofermentativas (Pediococcus acidilactici e Lactobacillus plantarum, por exemplo) para inocular a forragem se estiver abaixo de 33% de MS;
  • Use buchneri se o teor de MS estiver acima de 33% de MS para ajudar também após a abertura;
  • Por maior que seja o dano climático (seca ou geada) os animais podem ter desempenho zootécnico adequado, um técnico tem a capacidade de ajustar a formulação para que isso ocorra.

Published Jul 3, 2019 | Updated May 31, 2023