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Situações práticas de outono em lavouras de milho a serem ensiladas
Introdução
Nos últimos anos nos estados do Sul, algumas regiões sofreram com os campos semeados para uma colheita do milho “safrinha” ou de outras culturas.
Características dessa forragem
O primeiro procedimento que deve ser feito é a amostragem de algumas plantas para monitoramento do teor de MS.
- Baixo conteúdo de amido: a falta de chuva dificulta o enchimento dos grãos e a translocação de nutrientes para a espiga (também evidenciado na Foto 1);
- Altos níveis de açúcares: relacionado ao tópico acima, as plantas de milho que tenham passado por seca têm os carboidratos solúveis (açúcares) que não foram convertidos em amido, fazendo com que a concentração esteja na planta na forma de açúcares;
- Produção de MV reduzida: baixo crescimento vegetal como é evidente em áreas que sofrem com período de escassez de água durante o desenvolvimento vegetal (Foto 2). A redução na altura, associada ao menor acúmulo de amido têm impacto negativo nos dois principais fatores de uma boa silagem de milho: produção de MS e densidade energética;
- Maior digestibilidade do FDN: como faltou água, não houve estímulo de formação de tecido de sustentação vegetal. Sabe-se que a inturgescência das células vegetais (acúmulo de água) é uma das responsáveis pela formação e deposição de porções menos digestíveis das plantas, tal como a lignina. Sendo assim, a fibra torna-se mais digestível (maiores valores de FDN-D);
- Alto conteúdo de nitrato: esta questão está relacionada ao metabolismo de nitrogênio na planta. Alto nitrato nas plantas é crítico, sobretudo, para algumas categorias de animais (gado de leite e animais de cria). O nitrato acumulado pode levar à intoxicação por nitrito nos animais. Mais abaixo isso será comentado em mais detalhes.
Abaixo temos os valores de amostras (n = 1.386) avaliadas em um laboratório nos EUA, comparando algumas que passaram por seca e outras que tiveram as situações climáticas normais.
Tabela 1 – Comparativo de amostras analisadas nos EUA considerando materiais que sofreram déficit hídrico (seca) e materiais normais.
Amostras | MS (%) | PB (%MS) | FDN (%MS) | FDA (%MS) | FDN-D (%) | Cinzas (%MS) | Amido (%MS) |
Carboidratos solúveis (%MS) |
Déficit hídrico | 25,2 | 10,1 | 53,7 | 31,1 | 59 | 6,3 | 10,5 | 7 |
Planta normal | 35,1 | 8,8 | 45 | 28,1 | 55 | 4,3 | 32 | 1 |
Nota: FDN-D – Digestibilidade do FDN.
Fonte: Dairyland Labs – 1.386 amostras de silagem de milho que foram ensiladas entre 01/Julho a 07/Agosto de 2012, nos EUA em regiões de déficit hídrico e planta normal.
Cuidados com plantas nas situações de seca e geada
Uma das características dessas plantas é parecerem mais secas do que realmente estão, portanto há risco de colheita mais precoce do que deveria e que leva a fermentação butírica. Se o teor de MS estiver baixo e mesmo assim já for preciso a colheita nesse momento, a inoculação com bactérias homofermentativas é recomendada.
Foto 1 – Característica dos grãos de milho de plantas que sofrem estresse hídrico no estado de Goiás. Cortesia: Jorge Jawabri. |
Foto 2 – Lavoura de milho no estado de Goiás demonstrando a baixa produção de MS devido a seca que o material passou nos meses de março e abril de 2016. Cortesia: Jorge Jawabri. |
As plantas que passaram por seca acumulam nitrato durante o metabolismo de nitrogênio, principalmente nas porções mais baixas da planta, como demonstrado na Figura 1, em resultados de pesquisa da Universidade de Wisconsin.
Figura 1 – Níveis de nitrato em plantas de milho que cresceram com a falta d’água. Fonte: Universidade de Wisconsin. |
A boa notícia é que a ensilagem é capaz de diminuir consideravelmente o nível de nitrato durante o processo fermentativo, podendo alcançar até 60% de diminuição do teor de nitrato original na planta fresca, segundo alguns autores.
Silagem de forragens danificadas pela geada
Muito semelhante à seca, a geada compromete as plantas em momentos em que, geralmente, ainda não estão prontas para colheita, como demonstra a Foto 4. Nota-se que as folhas estão secas, mas as espigas ainda estão verdes, como citado acima para plantas que passaram pela seca, ainda pode haver água no colmo, o que poderia levar a uma fermentação inadequada.
Foto 4 – Lavoura que passou por geada em Maio de 2016 no estado de SC. |
A maior parte das recomendações é que essas lavouras devem ser colhidas até alguns dias (entre 5 e 7 dias) após o fenômeno e garantir a boa fermentação. Se for necessário, deve-se utilizar inoculantes que podem ajudar a controlar fungos e leveduras (L. buchneri ou Propionibacterium acidipropionici).
Recomendações gerais
- Monitore o teor de MS de lavouras atingidas por seca ou geada se o objetivo for ensilá-las;
- Mantenha as áreas que sofreu seca pelo tempo mais longo possível no campo, pois os níveis de nitrato devem diminuir com o avanço da maturidade;
- O corte mais alto tende a levar para o silo um material de menor teor de nitrato;
- Espere entre 3 e 5 dias após a chuva para colher o material;
- Use bactérias homofermentativas (Pediococcus acidilactici e Lactobacillus plantarum, por exemplo) para inocular a forragem se estiver abaixo de 33% de MS;
- Use buchneri se o teor de MS estiver acima de 33% de MS para ajudar também após a abertura;
- Por maior que seja o dano climático (seca ou geada) os animais podem ter desempenho zootécnico adequado, um técnico tem a capacidade de ajustar a formulação para que isso ocorra.
Published Jul 4, 2019 | Updated Jun 1, 2023
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